Princípios pagãos e uma cabecinha de 4 anos

Esse ano Lucas deu um "upgrade" em relação aos assuntos pagãos. Além de particiar mais dos rituais, ele começou agora a desenvolver uma consciência real sobre o assunto. Por exemplo, logo depois de Ostara, disse que precisava encontrar uma varinha menor, só para ele (sempre usou a minha para abrir e fechar os círculos), porque "ia ser tão bom para rezar". Depois, na noite em que minha irmã estava sendo operada, com apendicite (tadinha da minha maninha! Graças aos deuses, correu tudo bem), ele me contou que havia feito "um desejo" para a tia Claudinha com a varinha, em frente ao altar. Isso sem eu pedir nem nada! Achei o máximo! E fiquei imaginando aquela coisinha pequena, girando a varinha e desejando melhoras pra titia, sei lá com que palavras (queria ser uma mosca pra assistir!).

Agora ele começa a ver que também pode ter suas próprias ferramentas. Acho que daqui a pouco vai querer ter o próprio altar... vamos ver.

Eu o deixo bem à vontade, sem induzir pensamentos ou idéias, mas sempre respondendo às suas perguntas. Tomamos muito cuidado por criar Lucas em uma religião pagã, tão cheia de falsas idéias lançadas pela televisão e cinema. Não quero que ele pense que é tudo simplesmente uma festa e que tudo é possível, como em um filme de Hary Potter. Ele sabe que a varinha não vai fazer ninguém se transformar em sapo, nem fazê-lo voar, é tudo simbolismo, "modo de dizer", usando suas palavras. A principal mensagem que passamos é a da conexão com a Terra, de como fazemos parte de tudo e como somos responsáveis por nossos atos. A palavra de ordem ultimamente lá em casa tem sido "conseqüência". Explico que é o que acontece depois que fazemos alguma coisa. Ele cansou de ver exemplos dele e dos outros e agora 'captou a mensagem', de que tudo na vida tem conseqüências boas ou ruins, e que é importante estar atento ao que se faz pra não sofrer depois à toa, nem fazer outros sofrerem. E também pra ter sempre boas energias de volta em sua vidinha.

Mas ele é um camaradinha bacana, sempre com as melhores intenções e com o coraçãozinho ainda puro da infância. Se a gente conseguir conservar essa pureza dentro dele para criar um futuro adulto bacana também, já fico satisfeita.

Pra terminar, e por falar nisso, encontrei um site 10 sobre meio-ambiente voltado para crianças. Achei um barato: http://www.eco-pros.com/

Um dia muito bom

Sábado, Lucas finalmente tingiu os ovos de Ostara, ele mesmo escolheu as cores - e acertou direitinho por instinto: verde, amarelo, azul, e roxo de quebra... Desenhamos símbolos pagãos (ele fez mais espirais e triângulos) E o dia chegou! De manhã cedinho Lucas já acordou perguntando se podíamos fazer a trilha do sabbath, antes de tomar o café-do-manhã. Para convencê-lo a esperar foi um custo!

O dia estava lindo, com um belo sol, e a caminhada no Parque da Chacrinha foi muito gostosa. Lucas estava entusiasmado, subindo a trilha depressa (e eu atrás tentando explicar que era para irmos devagar para curtir a Natureza). Paramos diversas vezes para plantar sementes de girassol (será que vão pegar? Foi mais simbólico para ele entender a metáfora de plantar para colher depois, mentalizando coisas boas, mas seria tão bom se aquelas flores brotassem!); tiramos várias fotos, meu filhote escolheu uma nova varinha para meu altar (a original, também escolhida por ele, quebrou na mudança, snif)..

Depois voltamos para casa, e plantamos mais sementes de morango, salsa e camomila, terra para todo lado! O almoço, uma big salada bem colorida, ao estilo de Ostara, com ovos e salpicão, feito a 3 - eu, Lucas e Rodrigo, ficou uma delícia! Fizemos uma prece de agradecimento aos deuses pelos alimentos, e encerramos depois as celebrações com um ritual em frente ao altar, e Lucas com nossa nova varinha, abriu e fechou o círculo, da maneira simples que ensinei, acho que ainda é cedo para mostrar algo mais elaborado.

Enfim, foi um dia delicioso, e Lucas gostou muito de participar de tudo. Acho que dessa forma vai dar para cultivar uma boa semente no coraçãozinho dele.

A Lenda do Coelho e a Deusa Eostre

A palavra para Páscoa em inglês é "Easter", derivada do nome da grande deusa-mãe da fertilidade anglo-saxã Eostre, e por sua vez, seu nome deriva da antiga palavra para a primavera, "eastre". A lenda por trás do coelhinho da Páscoa remonta a muito antes do que normalmente conhecemos em nossa sociedade.

Conta-se que em um belo dia uma pequena coelha encontrou-se com Eostre, e quis tanto agradá-la que acabou pondo ovos sagrados em sua honra, decorou-os com cores alegres e com muita humildade os ofereceu à Eostre. A Deusa ficou tão feliz com o presente que desejou que toda a Humanidade compartilhasse sua alegria. Em respeito ao seu desejo, a coelhinha passou a viajar pelo mundo distribuindo os ovos, como pequenas dádivas lembrando a vida.

Gosto muito dessa lenda - que possui muitas variações, como toda lenda, mas basicamente é como descrevi. Nunca é demais lembrar como a humildade deve estar presente em nossos corações, como podemos multiplicar nossa boa energia se mantivermos puros e serenos nossos corações (na medida do possível, já que um estado de Polyanna nem sempre dá para se manter).

*A ilustração acima foi feita por Scott Brooks é uma das minhas favoritas, e o link para ela é o seguinte: http://www.sgbrooks.com/art/portfolio/sgbrooks_eostre.jpg

Aliás, esse artista é fantástico, vale a pena conferir os outros trabalhos dele.

Ovos de Ostara

Uma das coisas que mais curto nos sabbaths são os preparativos para o ritual. Como toda a preparação começa na tarde anterior, dá pra fazer tudo com calma, sem atolação. Esse ano Lucas está com uma coordenação melhor, então resolvi tingir e desenhar com ele os ovos cozidos (símbolos mais populares de fertilidade e abundância), que sempre faço para o "banquete" do altar. Antes só eu desenhava os símbolos na casca com canetinha colorida. Estava quebrando a cabeça, e minha mãe deu uma boa idéia, que tenho certeza que Lucas vai adorar: tingir com papel crepom! É fácil, não se gasta quase nada é é diversão certa para as crianças:

Receitinha da vovó Glaucia - colocar pedaços de papel crepom na cor desejada (uma cor de cada vez) em uma panela com água no fogão, e mergulhar os ovos para cozinhá-los. A tinta sai na água e vai tingindo os ovos à medida que estes cozinham. Depois é só deixar secar.

Claro que fui fuçar na Internet, e encontrei um site super-bacana em inglês (http://www.dltk-holidays.com/easter/dye.htm) com várias técnicas de tingimento, e resolvi seguir a receita deles, só porque vai ser mais divertido:

Você precisa de:

1. Ovos cozidos

2. Quadrados de papel crepom não-reciclado de cores diferentes e brilhantes

3. Borrifador de água ou vasilha com água

- Borrifar ou mergulhar os ovos na água

- Pegar um pedaço de papel crepom de cada vez e grudar na casca do ovo. Pode-se usar cores diferentes juntas

- Borrifar um pouco de água no papel, se ele não estiver completamente molhado.

- Deixe secar em uma vasilha
- Ao secar, o papel vai cair, e lindas cores ficarão na casca.
- Depois é só decorar com símbolos mágikos (pentagramas, espirais, triângulos, serpentes, etc), carregando-os com boas energias.

Agora, imaginem a bagunça que Lucas vai fazer com isso! Enquanto trabalhamos, vou explicando novamente para ele o significado do sabbath, e dessa forma ele vai absorvendo melhor os ensinamentos, sem "peso". Agora falta pouco! :)

Ostara chegando!

Dia 23, domingo, temos Ostara, o Equinócio da Primavera, sabbath da fertilidade e do equilíbrio, quando o dia e a noite tem a mesmo duração. É um dos meus sabbaths preferidos, dia de cor, alegria, flores! Dia de se desligar das amarras do passado que porventura estiverem atrasando a vida, dia em que a própria vida tem mais força sobre a morte - a luz começa a ficar mais forte, estamos indo em direção ao Verão. Dia em que o Deus e a Deusa na bonita lenda são jovens amantes prestes a conceberem o bebê Deus.

Foi desse sabbath, aíás, que surgiu a Páscoa cristã que conhecemos, com distribuição de ovos, etc, etc., mui espertamente convertida pelos superiores religiosos à época da implantação do Cristianismo para arrebanhar as ovelhas pagãs, que eram muitas. Dou ovos na Páscoa convencional em abril também, adooooro chocolate e estamos conversados, é uma tradição tão arraigada no Brasil que na minha humilde opinião, é besteira fechar os olhos pra isso.



Mas enfim, é um dia alegre, que merece um ritual no mesmpo espírito. Como meu filho adora celebrar os sabbaths da Roda do Ano comigo, este vai ser bem mais gostoso, já que, do alto dos seus quatro anos, ele participa mais de tudo. Teremos Kinder Ovos (só por causa do brinquedinho que Lucas adora), vamos pintar alguns ovos de verdade com símbolos mágikos, plantaremos algumas sementes, vamos dar uma volta na trilha da Chacrinha, lindo parque perto de casa... vai ser um dia cheio, claro que vou registrar tudo para a posteridade, e postar aqui... mal posso esperar para domingo chegar!